quarta-feira, 28 de novembro de 2012

VINOTÍCIAS - DICAS SOBRE VINHOS - 48/2012 – Ano X

SELEÇÃO DE ARTIGOS VEICULADOS NA MÍDIA RELACIONADA A VINHOS




Os artigos a seguir são reproduções das matérias e arquivos veiculados nos principais jornais brasileiros, que tratam do tema, sendo citados sem nenhum valor de juízo, correções, inserções ou censura, procurando divulgar a cultura do vinho entre as pessoas que recebem o Vinotícias.



● MARCELO COPELLO – BACOMULTIDIA E VINOTECA - 21/11/2012

Escreveu o artigo “PESSOAS QUE BEBEM COM RESPONSABILIDADE SÃO MAIS FELIZES” – Um estudo a longo prazo sugere que o consumo moderado de álcool está ligado a uma menor incidência de doenças e melhor estado emocional.

Beber álcool de forma consistente e responsável está ligado a um aumento geral de saúde e bem estar, de acordo com um estudo com canadenses em meia idade. Aqueles que mantinham seu consumo semanal sensato, de acordo com os autores, também diziam estar se sentindo mais felizes e tinham menos reclamações em comparação com aqueles que não bebiam ou pararam de beber.

A pesquisa, publicada recentemente em artigo no Journal of Studies on Alcohol and Drugs (Revista de Estudos em Álcool e Drogas), acompanhou aproximadamente 5.400 canadenses por 14 anos. Os autores operaram primeiro fora da Universidade Estadual em Oregon, com a ajuda de centros de saúde em Quebec e Ontario.

Os voluntários raramente mudavam seus hábitos de consumo, com a quantidade sensata de álcool sendo até 21 unidades por semana para homens e 14 para mulheres (Uma unidade equivale grosseiramente à uma taça de vinho, embora o conteúdo alcoólico possa variar). Os pesquisadores observavam problemas de saúde e os voluntários preenchiam questionários para quantificar a disposição emocional geral. Por exemplo, os alvos do estudo respondiam quão frequente se sentiam “tão mal que nada poderia ajudar” ou quando “tudo era um esforço”. Os resultados foram convertidos em uma fórmula onde 1.0 correspondia à perfeitamente saudável e 0,36 à alta debilidade emocional.

Aqueles que consumiam moderadamente marcaram melhor no score com uma média de 0,89, enquanto os que deixaram de beber ficaram em último com 0,74. Aqueles que não bebiam marcaram na média 0,78 e os que bebiam demais 0,86. ”O consumo moderado de álcool não profocou efeitos deletérios mensuráveis ao longo da pesquisa”, diz o estudo.

Os pesquisadores afirmam que o estudo é importante pois acompanha o consumo de álcool da meia idade em diante, enquanto outros estudos anteriores não avaliavam riscos do consumo em idades específicas. “De fato, o consumo moderado durante a meia idade e terceira idade pode ter sido benéfico”, acrescentam. No entanto, os pesquisadores dizem que seus estudos não apoiam a iniciação no consumo de álcool por razões de saúde.

O International Scientific Forum on Alcohol Research (Fórum Científico Internacional em Pesquisas sobre Álcool), um consórcio de especialistas na área da saúde, apoiam fortemente as suposições do artigo. O revisor do fórum Harvey Finkel, um oncologista na Boston University Medical Center, indicou que é importantíssima a continuidade do acompanhamento dos indivíduos voluntários. “Conforme as pessoas envelhecem, mesmo não levando em conta os obstáculos médicos, diminuem suas interações sociais, o que leva a um menor estímulo e oportunidades de beber”, diz ele. Colaboração: Marcelo Copello (mcopello@bacomultimidia.com.br )



● ALEXANDRA CORVO – FOLHA DE SÃO PAULO – MEU VINHO - 21/11/2012

Escreveu o artigo “ DA ÁFRICA ”- Por causa do feriado da consciência negra, andei me perguntando o que o magnifíco continente de onde vieram magníficos povos tem feito em termos de produção de vinho.

Pela sua dimensão continental, claro, há coisas variadas. O norte produz algumas coisas interessantes, mas a cultura islâmica e o pouco investimento ainda não permitiram que a região se desenvolvesse.

As uvas costumam ser as mediterrâneas, como carignan, cinsault e mourvèdre. Mas, a realidade é que apenas a África do Sul tem conseguido resultados expressivos, pelo menos por enquanto.

Nos anos 20, desenvolveram uma uva para chamar de sua, a Pinotage, um cruzamento das francesas pinot noir e cinsaut (ali chamada de Hermitage). Dá estilos variados, desde mais elegantes com notas de ervas, até frutados intensos amadeirados.

Stellenbosch, perto da cidade do Cabo, é a região mais importante, produzindo grandes tintos de uvas internacionais, mas com destaque para a pinotage, sempre de estilo potente e rico.

O vinho da região de Constancia, feito de uvas colhidas muscat colhidas tardiamente e bem secas e doces, teve seus dias de glória no século XIII e há registros de que Napoleão comprou mais de mil litros para seu exílio e que o tomou em seu leito de morte. Apesar da decadência, algumas casas tentam hoje recuperar sua glória.

Franschoek, minúscula região, carregada de cultura francesa no vinho e na gastronomia, produz vinhos de todos os tipos. Paarl tem clima quente e foca em tintos produzidos em altitude. Robertson, apesar do clima quente, tem bons resultados com brancos e os tintos são de estilo elegante.

Para celebrar a África colorida e seus povos fabulosos, uma pequena seleção.

SUGESTÕES DE VINHO:

● Fairview Pinotage 2010 – Stellenbosch: Aromas de frutas negras aliadas a especiarias doces. Boca cheia e tânica. Onde Ravin, tel.: 0/xx/11/5574-5789. Quanto R$ 72. Em BH- Fine Food - www.finefoodbh.com.br -Tel: (31) 2526-3699.

● Nederburg Première Cuvée Brut - Western Cape: Aromas de uvas verdes com um toque de pêssego. Espuma cheia e acidez refrescante. Onde Casa Flora tel.: 0/xx11/2186-7676. Quanto R$ 41. Em BH: Ronaldo Bassalo - (31)3293-0556.

● Raka Sauvignon Blanc 2009 – Overberg: Notas muito frescas de maracujá verde e pimentão verde. Acidez cítrica e corpo magrinho. Onde Decanter, tel.: 0/xx11/3702-2020. Quanto R$ 69. Em BH - Enoteca Decanter - Rua Fernandes Tourinho, 503 – Funcionários – Belo Horizonte / MG. Telefone: (31) 3287-3618.

● Danie de Wet Pinotage 2011 – Robertson: Denso, achocolatado, com tostado pronunciado. Boca cheia, finalzinho amargo. Onde Mistral, tel.: 0/xx/11/3372-3400. Quanto R$ 48. Em BH: MISTRAL - Rua Cláudio Manoel, 723 - Savassi - BH. Tel.: (31) 3115-2100.

Alexandra Corvo trabalhou por 15 anos como sommelière nos EUA, Europa e Brasil. Hoje é proprietária do Ciclo das Vinhas – Escola do Vinho. Escreve semanalmente, às quartas, na versão on-line do “Comida” e a cada duas semanas na versão impressa do caderno.

● LUIZ HORTA – O ESTADO DE SÃO PAULO - PALADAR – GLUPT – 21/11/2012

Escreveu o artigo “ O BIG BANG DA VINHA DURIENSE ” – Estive duas vezes na Quinta do Vale Dona Maria, a vertiginosa propriedade duriense (adoro essa palavra, quer dizer originário do Douro, com traços romanos do seu nome latino, Durius) de Cristiano e Joana van Zeller (no Porto se diz: os van zellerés). Na primeira visita, no auge do verão, em agosto, as videiras no estágio final de maturação de suas uvas para a colheita, o calor era brutal, algo que só sentira em Sevilha, igualmente num agosto, décadas atrás. Não há sombra, ventilador, ou brisa que atenue. E só pedra e sol, sol e pedra, implacáveis para os miolos humanos e necessários no seu rigor para a doçura e qualidade única das uvas na região.

Foi bom me sentir uma videira, ver por que é necessário deitar raízes profundas em busca de nutrientes e alento. Viver tudo aquilo da paisagem árida, que, logo em seguida, relaxa em beleza, na exuberância da colheita e no festivo e transformador da produção. É uma espécie de véspera, o mundo esperando a explosiva e decisiva cantoria das matinas de setembro, quando toda a tensão do ano, desde o adormecimento do inverno ao brotamento da primavera, aos riscos de doenças, de geadas, de granizo, passou. E eis a uva!

Cristiano é um dos maiores enólogos portugueses (e não estou brincando com seu tamanho), nascido quando ainda era da família a velha propriedade senhorial da Quinta do Noval, com todas aquelas ramificações que tornam parentes ou interligados os portugueses do norte ligados ao vinho, com origem antiga, holandesa ou inglesa, remotíssima. E, apesar de caçador de perdizes dedicado e apaixonado, capaz de falar com intensidade ameaçadora sobre armas, cães perdigueiros e a emoção do tiro certeiro, é um homem cordial, bonachão e sorridente. Algumas horas passadas com ele são um curso de vinho e de humanidades. Em resumo: um grande companheiro de mesa.

Nessa primeira visita me hospedei na Quinta, tivemos almoço al fresco (ironia, o vento era morno), e ele contou que no verão passado, bem lá no fundo do vale, a temperatura atingiu 50°C, o ar condicionado do carro estourou e Cristiano teve que derramar água sobre a cabeça até conseguir chegar ao abrigo da cantina, ou morreria.

O Douro é assim. Urbanoides como eu, se algum dia sonharmos produzir vinhos, precisamos cair na real, não é para qualquer um. Uvas e enólogos precisam ser resistentes. Nessa primeira visita provei todos os vinhos das suas diversas propriedades e gamas (leia abaixo), os VZs e Van Zellers, os CVs (Curriculum Vitae e não Cristiano van Zeller, ressalta) e os Vales Dona Maria. Foi um curso que merecia diploma.

E o diploma veio em setembro, quando voltei, privilegiado convidado com mais quatro colegas do jornalismo de vinho brasileiros e a suma da imprensa de vinho portuguesa para uma inédita prova vertical de todos os Quintas do Vale Dona Maria. Cristiano fez a prova mais impecável que já vi, porque teve a honestidade incrível de não abrir nenhum vinho antes. Sentou-se conosco e submeteu-se às surpresas e aos riscos das decepções ali em público, degustando na hora o que tinha acontecido na sua vida engarrafada. Abriu na nossa frente cada garrafa, todas de sua reserva pessoal, e foi apreciando conjuntamente com o público exigente. Um atrevimento corajoso, mas que teve, como era de se esperar, a pontaria certeira do caçador. Os vinhos estavam dignos, elegantes, extraordinários. Alguns, obviamente, como grandes antenas do terroir, melhores, refletindo suas safras (leia abaixo). Num annus mirabilis para mim, em que provei mais grandes vinhos que o habitual, esse foi um dos maiores privilégios. Senti-me gente grande.



● QUINZE SAFRAS EM UMA PROVA - Foram 15 safras, de 1996 a 2010. Não vou comentar cada uma, pois seria longo e interessaria apenas ao leitor especializado. Prefiro destacar minhas favoritas, com um perfil rápido de cada, e falar das disponíveis aqui, importadas pela Vinhosul (tel. 3507-789). Pela dimensão da degustação, os vinhos foram servidos em etapas. Primeiro, os Quintas do Vale Dona Maria de 1996 a 2003, entre os quais me encantaram o 01, o 03 e o 2000, nesta ordem. O 2001 tinha um delicioso nariz de batata assada, umami, taninos potentes e finos, por evoluir, acidez equilibrada e elegância única. Anotei na caderneta: excelente em tudo. O 2003 tinha muita fruta escura no nariz, toque picante. Liberei a poesia e anotei “aroma de sombra, como cheirar o frescor do escuro”, desculpem o entusiasmo. Na boca era mineral, longo e de um refinamento exemplar, foi um dos que ganharam mais estrelinhas para mim, na prova inteira. O 2000 tinha aroma de toffee, de café, taninos marcados na boca, fácil de beber, ótima acidez. Na segunda rodada, de 2004 a 2010, meu destaque, por sorte (pois é a safra que se encontra aqui), foi o 2008. Apesar de fechado inicialmente no nariz, tinha uma boca generosa e com muita mineralidade, muito fino, mas contido. Brinquei que era da margem fineza e não da margem potência do rio dos vinhos. Ainda tem anos de vida e sempre estará equilibrado. Nasceu para ser nobre, esse aí.



● RENATO QUINTINO – PAMPULHA – TURISMO – SABORES DO MUNDO – 18/11/2012

Escreveu o artigo “ AZ DE MARACATU NO AZUL DE ZANZIBAR ” – O continente africano é destino de viajantes com alma aventureira para safáris ou em busca de paisagens espetaculares em roteiros desprovidos de apelos ao consumo. De Marrocos, Tunísia e Egito, no norte, à África do Sul, passando pelos países de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, à paradisíaca Zanzibar, a África precisa ser descoberta pelo turismo internacional.

O continente – que tem referências culturais diversas, como o monte de Kilimanjaro, do escritor Ernest de Hemingway, e o Quênia de “Out of Africa”, livro da Isak Dinesen, pseudônimo da baronesa Karen von Blixen-Finecke – oferece uma cozinha deliciosa, que marca presença forte inclusive em todo o sul da França.

Além do célebre “cuscuz marroquino”, a cozinha africana se baseia em um mix de especiarias, como harissa, has al hanout e berbere, todos, excelentes para temperar quase tudo, do frango assado com limão siciliano e ervas a camarões, lagostas e carne de cordeiro.

Entre os oceanos Atlântico e Índico, vinagretes de tamarindo e mangas, abacates, quiabo e dendê em muito lembram a tropicalidade brasileira, enquanto temperos como açafrão, páprica, z’atar e iogurte remetem às culturas do Oriente Médio e do Extremo Oriente.

Preparos de arroz diversos, coloridos por especiarias combinadas com frutos do mar, misturas de leite de coco e pimenta e até mesmo curries e gengibre são algumas das delícias da temperada cozinha africana.

Uma boa indicação é o livro do chef etíope naturalizado sueco Marcus Samuelsson, uma das maiores celebridades internacionais no mundo da gastronomia pelo seu Aquavit, em Nova York, que homenageia suas origens no “The Soul of a New Cuisine: A Discover y of the Foods and Flavors of Africa”, disponível no site da Amazon. Imperdível!. RENATO QUINTINO é professor e consultor de gastronomia, vinhos e harmonização, escreve a coluna Turismo do Jornal PAMPULHA e o blog: www.renatoquintino.com.br



● MIRIAM AGUIAR – OS VINHOS QUE A GENTE BEBE – ......../11/2012

Escreveu o artigo: “ A MESA EM GRANDE ESTILO ” – A Unesco concedeu o título de patrimônio imaterial da humanidade à refeição gastronômica francesa em novembro de 2010. Mais do que fazer um bom prato, especialidades culinárias, que teremos também em muitas culturas, a França valoriza a refeição. Como já dito, reunir-se em torno de uma mesa para conversar e apreciar a comida, servida em partes e integrando as bebidas é um hábito cotidiano francês. A refeição francesa expressa muito do seu modo de ser: estruturada em etapas e horários bem definidos, integrando e harmonizando produtos locais (cada qual com sua história particular), que não se misturam, mas que juntos cumprem funções orgânicas complementares. Nada está ali por acaso, cada alimento, cada bebida com sua retórica e estética particular e, à mesa, todos se reúnem para reafirmar a cultura e a sociabilidade francesa, sempre com moderação. O francês normalmente come bem (em qualidade e quantidade), mas dificilmente come fora de hora e “demais”. Talvez este o segredo de sua silhueta fina em relação a algumas nacionalidades.

Não sei se outras pessoas pensam assim, mas para mim essa percepção é bastante nítida e começou a partir de um jantar no Brasil em casa de franceses. Já familiarizados com o ritual brasileiro de comer, eles serviram alguns pratos à mesa e não na sequência francesa. Eu, como qualquer brasileiro que gosta de (se) misturar, servi um pouco de cada iguaria no meu prato, ao que eles olharam surpresos, pois eles comeram cada item separadamente. Fiquei pensando como é que alguém poderia comer um puré de batatas puro?!!! E eles devem pensar o mesmo em relação à mistura dos nossos deliciosos “mexidos”!

Pois bem, as novas gerações e o cotidiano apressado das grandes cidades têm mudado um pouco essa prática e a gente encontra muita gente almoçando sanduíche em pé. De baguete, é claro. No entanto, a ordem ainda bastante praticada é entrada, prato principal, sobremesa e café. Já um ritual mais completo, como o que aqui relato, tem seis etapas, todas harmonizadas com vinhos, desde o aperitivo ao digestivo. Este jantar foi servido no Château de Clos du Vougeot, onde se realiza o tradicional encontro da Confrérie des Chevaliers du Tastevin (Confraria dos Cavaleiros do Tastevin) e foi promovido para recepcionar um congresso do qual participei. Uma maravilha! Difícil dizer qual o prato mais saboroso e pensar numa melhor harmonia com vinho. Aqui está uma prova de que a apreciação de um vinho ou de qualquer outra coisa não pode ser avaliada por si só, mas pelo encontro de vários aspectos, inclusive do nosso humor. Se fôssemos avaliar os vinhos isoladamente, eles estariam numa categoria mediana em relação a outros experimentados, mas, ali, casados com aqueles temperos e com o clima festivo, eles brilharam.

A Confrérie des Chevaliers du Tastevin foi criada em 1934 e é composta por cerca de 12.000 integrantes ao redor do mundo. Segundo informações concedidas, ela seria uma espécie de ressurreição de algumas confrarias báquicas dos séculos XVII e XVIII, que se dissiparam. No período entre guerras, diante de uma grande crise econômica da vinicultura local, a Confraria nasceu a partir de uma iniciativa de produtores da Borgonha, visando incentivar o consumo de grandes vinhos, estritamente ligados à tradição do bem comer e beber. O Château du Clos de Vougeot, monumento histórico da Borgonha, teve origem enquanto viticultura no século XII, propriedade dos monges cistercianos. O Château foi edificado em 1551 e restaurado após o final da 2a Guerra Mundial, quando também passou a sede da Confraria. Com um estilo renascentista, ele está na rota dos Grand Crus, aberto ao enoturismo (ver mais em Dicas ).

A Confrérie dos Chevaliers du Tastevin tem alguns encontros fixos realizados nas ambientações do Château, chamados de “Capítulos”: Capítulo da Primavera, do Verão, do Outono, do Inverno, do Equinócio, das Rosas, dentre outros. Nesses encontros, que podem incluir centenas de integrantes, a ordem é beber, comer e celebrar em grande estilo. Para tal, o menu e os vinhos são especialmente harmonizados, bem como a ambientação e o serviço. Há mais de 20 anos, o chef Olivier Walch prepara pratos memoráveis, como alguns que tivemos a oportunidade de experimentar. O clima é bastante festivo e animado pela banda dos cadetes, que interpretam músicas populares tradicionais. À medida que o vinho é servido, mais calorosa a recepção.

O nome Tastevin refere-se a pequena taça de prata ou metal, utilizada em tempos remotos (séculos XV e XVI) para se degustar os vinhos dentro das caves e avaliar a sua maturaçao. Pelo seu formato, relevo e material, a taça facilitava a identificação da coloração do vinho tinto diante da baixa luminosidade. A Tastevinage é uma seleção de vinhos da Borgonha, realizada duas vezes ao ano, na primavera e no outono, pelo método de degustação às cegas. A última Tastevinage aconteceu em 07 de setembro de 2012, quando 700 vinhos foram degustados por 280 especialistas. A relação dos 263 vinhos selecionados está disponível para download no site da Confraria: http://www.tastevin-bourgogne.com/fr/index.php?page=248

Além do calendário fixo anual, a Confraria faz banquetes para alguns eventos, como o nosso. Vou relacionar aqui os pratos e vinhos servidos que, para o meu paladar, estavam absolutamente deliciosos e em perfeita harmonia. Em seguida, a receita de um prato muito particular (inesquecível), especialidade do Chef Olivier Walch: Les Oeufs em Meurette Vigneronne . A tradução dos nomes dessas criações gastronômicas nem sempre conseguem exprimir o mesmo sentido. Por isso escrevo os nomes originais e, abaixo, uma tentativa de tradução. Infelizmente, não tenho os nomes de todos os produtores dos vinhos servidos, mas cito outros dados importantes, como a região, o tipo, a classificação do vinho e o que leva à harmonização.



MENU DO JANTAR FESTIVO

Primeira entrada

La Terrine de Sandre aux Ecrevisses (Terrina de sander e lagostins)

Vinhos:

Viré-Clessé Cuvée Spéciale Cave de Vire 2008 - Viré-Clessé é uma AOC Village da região de Macônnais e este vinho branco de chardonnay é bem ao estilo macôn, com muito frescor e fruta. Casa bem com pratos à base de peixes e frutos do mar, permitindo a expressão dos sabores delicados do prato.

Côtes de Beaune Rouge Les Mondes Rondes 2008 - Situado a cerca 350m de altitude, o lieu-dit “Les Mondes Rondes” está no centro da Appellation Côte de Beaune e dá origem a um vinho tinto com aromas de frutas negras e sabores picantes. Pode acompanhar pratos de gosto forte, como esta um tanto exótica especialidade, à base de molho de vinho e ovos.

Prato Principal

Le suprême de Géline Rôtie au Jus de Truffe de Bourgogne (Supremo de galinha assada ao molho de trufas de Bourgogne)

Vinhos:

Saint-Romain Rouge Sous de la Roche 2005 - Os vinhos da appellation Saint Roman são feitos 100% pinot noir e estão na Côte de Beaune. Podem vir acompanhados ou não do nome do lieu-dit. De modo geral, seus vinhos são levemente encorpados e tânicos, com boa estrutura para envelhecer, mas elegantes desde jovens. Os aromas de frutas vermelhas ganharão, ao longo do tempo, um caráter mais maduro e defumado. Indicado para acompanhar pratos de aves, podendo chegar às carnes vermelhas. Este Saint Roman com 7 anos de evolução harmoniza bem com este suculento, perfumado e encorpado prato de ave.



Prato de Saída

Les bons fromages de Bourgogne Frais et Affinés (Os bons queijos de Borgonha frescos e refinados)

Vinho:

Beaune Rouge 1er Cru 1999 - Vinho tinto elegante, com boa acidez e médio corpo para acompanhar queijos franceses cremosos e levemente perfumados.

Sobremesa

La Cabotte Glacée aux Fruits de Saison (Cabana gelada com frutas da estação)

Vinho:

Crémant de Bourgogne Brut Rose - Este prato, como outras sobremesas de França são de uma delícia indescritível. Pela foto dá para imaginar, creio. É muito usual harmonizar sobremesas de frutas com espumantes secos ou demi-secs. Neste caso, o toque de frutas vermelhas do Cremant rosé busca harmonizar-se com as frutas da sobremesa, enquanto a sua acidez ajusta a untuosidade do sorvete.

Final

Le Café Noir et Chaud - Les Petits Fours (Café e petits fours).

Vieux Marc é um destilado das partes sólidas da uva, envelhecido em barris. O licor de prunelles é feito da polpa deste pequeno fruto do bosque, de cor azul escuro, proveniente da mesma família das ameixas. Normalmente são servidos como aperitivos ou ao final da refeição, juntamente com o café. Como dita a refeição gastronômica patrimonializada pela Unesco, o banquete francês começa com um aperitivo e termina com um digestivo, apaziguando os humores do corpo até a próxima refeição! Outros posts sobre a Borgonha estão nas seções Lugares , Sobre Vinhos e Signos dos Vinhos. Míriam Aguiar é publicitária, Mestre em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado pelo CPDA (Centro de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) da UFRRJ, em parceria com o CIRAD (Centre de Recherche Agronomique Development), na qual investiga a evolução da noção de qualidade do vinho em estudo comparado Brasil/França. Atua como professora e pesquisadora das áreas de Comunicação, Consumo e Enogastronomia e é autora dos livros: Comunicação no mercado de consumo transnacional: McDonald’s; a montagem do sabor igual sem igual e O vinho na era da técnica e da informação: um estudo sobre Brasil e Argentina. Veja mais em: http://www.dzai.com.br/2864/blog/osvinhosqueagentebebe



● MÁRCIO OLIVEIRA – VINOTICIAS – 25/11/2012

Escrevi o artigo “ A MÁGICA DOS AROMAS DO VINHO ” – O uso dos aromas e perfumes é fundamental nas sociedades, tanto nas sociedades primitivas, quanto nas sociedades modernas e sofisticadas....Se um bom aroma era fundamental para separar o que era comível do que era veneno, os aromas denotam também o que está limpo do que está contaminado.

Da mesma forma que as pessoas podem desenvolver um senso estético para apreciar e avaliar uma bela pintura ou uma bela escultura, uma música agradável, uma boa comida, é possível adquirir um conhecimento mais profundo do papel desempenhado pelo sentido do olfato.

O vinho, sem os seus aromas, sejam eles de aspiração direta ou de retrogosto, simplesmente deixaria de ter qualquer interesse. O importante, ao degustar uma taça de vinho, não é apenas fazer uma análise, ou uma classificação ou uma quantificação quanto aos aromas, mas encontrar o prazer existente em cada essência aromática encontrada. A verdade é que isto é fundamental para uma pessoa escolher um vinho entre milhões de rótulos, como o seu preferido.

Muitos amantes do vinho se perguntam sobre certos aromas do vinho e suas origens, tais como os de framboesa, banana, baunilha e caramelo. Branco, tinto ou rosado, o vinho é certamente a bebida alcoólica que mais se destaca pela fineza e complexidade de seus aromas. Provenientes da uva, da fermentação ou da guarda, eles refletem na mucosa olfativa do degustador a presença de centenas de componentes odoríferos que a bebida armazena, em quantidades ínfimas. Alguns deles são mais freqüentes ou mais pronunciados e cercam-se de curiosidades quanto a sua origem.

● Aroma de framboesa, o mais frequente nos tintos

A framboeseira é um arbusto da família das rosáceas que surge em estado silvestre nas matas do hemisfério norte, sendo rara no Brasil. O fruto vermelho, escuro e corrugado é rico em pectinas, próprio, portanto, para geléias. Não sendo uma fruta comum entre nós, reconhecemos seu aroma a partir das geléias ou licores produzidos a partir dela. O aroma de framboesa no vinho, perceptível em grande número de tintos, deve-se à presença da frambinona - nome comum da fenilbutanona - substância com odor de framboesa que se forma durante a fermentação.

O aroma de framboesa é o mais freqüente nos tintos. Se você não se deu conta disso, sugiro procurá-lo em sua próxima degustação de Cabernet, Syrah, Nebbiolo e Tempranillo, originários do Velho Mundo ou de Malbec, Tannat, Carmenère e Zinfandel do Novo Mundo. Faça isso após provar a geléia da frutinha para memorizar seu gosto.

● O Beaujolais Nouveau e o aroma de banana

Uvas colhidas em setembro, vinificação em outubro, engarrafamento no início de novembro. E pronto, na segunda quinzena de novembro, "le Beaujolais Nouveau est arrivé". O que há de especial em sua elaboração que resulta no aroma de banana, cuja intensidade varia ano a ano?

Na vinificação do Beaujolais acomodam- se bagos inteiros de uvas Gamay em cubas fechadas, sob pressão. Nessas condições, as enzimas da polpa são ativadas, verificando-se no interior do bago uma tímida transformação de açúcar em álcool, com formação interna de gás carbônico.

A fermentação intracelular cessa naturalmente após uns dez dias e inicia-se o processo de elaboração do Beaujolais, conhecido como maceração carbônica. Diminui-se o teor de ácido málico e formam-se álcool, glicerina e outros componentes. Entre eles, o acetato de isoamila com seu cheiro de banana amassada. E o aroma de banana estará no Nouveau, mais ou menos intenso, dependendo da concentração de acetato de isoamila naquele ano, para cada produtor.

● Baunilha versus Caramelo

Esses dois odores agradáveis desenvolvem-se nos tintos e brancos a partir da mesma substância, a vanilina da madeira, sendo, portanto, aromas de vinhos fermentados em tonéis ou amadurecidos em barricas.

A baunilha é nítida nos brancos que passaram por carvalho, como os da Chardonnay, particularmente nos da Califórnia, do Chile e da Austrália, ou ainda nos tintos de corte bordalês ou nos Reserva e Gran Reserva da Rioja. Quimicamente falando, o que se percebe é a nuance menos intensa, porém mais suave e refinada, do vanilato de etila, resultante da esterificação da vanilina.

A vinificação especial dos vinhos doces naturais - Banyuls, Maury, moscatéis de Setúbal e Pantelleria etc. - lhes comunica um odor caramelado.

Não é muito fácil decidir-se entre os aromas de baunilha e caramelo. Como esse último nada mais é que açúcar queimado, sugiro que se procure um toque tostado. Com tostado é caramelo, sem tostado é baunilha. Baseado no livro "110 Curiosidades do mundo dos Vinho", de Euclides Penedo Borges, Editora Mauad/Rio.



● PARA LER E REFLETIR

“O vinho é inocente, só o bêbado é culpado.” - Provérbio russo



Márcio P. Oliveira – 25/11/2012

Tel.: (31) 8839-3341 Blog.: vinoticiasbh.blogspot.com

E-mail: molivier@ig.com.br molivierbh@gmail.com

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